quarta-feira, 3 de novembro de 2010

mostra - dias 12 e 13


Hugh Hefner, de Brigitte Berman

fazem umas duas semanas que eu achei uma macumba em uma casa abandonada numa vila fantasma e botei fogo nela. tinha nomes de pessoas, milhos, muito jornal e outras coisas estranhas.

até então, nada tinha me acontecido. mas esse dia dois de novembro, coincidentemente dia dos mortos, foi de uma tenebrosidade absurda.

tudo começou relativamente bem: documentário sobre hugh hefner, o dono da playboy e um dos maiores gênios que esse universo já começou. ele já começa resumindo basicamente o que tem a ser dito: me mostre um homem no mundo que não daria a bola esquerda pra ser hugh hefner. é, eu daria. sem pensar duas vezes.

(ok, não aos 80 anos, quase morrendo, como hoje. e não aos 22, minha idade, quando ele ainda nem tinha idéia do que viria a ser a playboy. pensando melhor... me façam a pergunta de novo daqui há uns 15 anos.)

é um documentário totalmente tradicional na sua forma, feito pelo instituto canadense, ou seja, uma sumidade em documentários clássicos. apresenta o cidadão, sua vida, sua obra. entrevistas, depoimentos, imagens de arquivo, equipe não aparecendo em momento nenhum. quadrado, mas extremamente eficiente devido à complexidade de hugh e de todo seu legado para a humanidade.

são discutidos diversos temas, não só a playboy e as mulheres. toda a relação de hugh hefner com a aceitação dos negros na mídia, sendo o primeiro homem a permitir que eles frequentassem um programa de televisão e clubes que antes eram exclusivos para brancos, disseminando o jazz na sociedade, lutando pela liberdade sexual feminina, praticamente um pioneiro nas guerras contra o preconceito e a caretice nos estados unidos. com uma figura dessas, uma obra artística apenas correta dá conta de ser interessante o tempo todo.

as coisas continuavam bem com a primeira hora de símbolo, filme que galgava para o posto de melhor visto na mostra, totalmente louco, anárquico e inovador, até que uma pane geral da sala interrompeu a projeção. aí, vocês sabem como funciona: vai voltar em vinte minutos. passam-se quarenta e nada resolvido. só mais cinco minutinhos!, e assim eternamente até o cancelamento. o lado bom é que foram doze dias pra uma bizarrice dessas acontecer (comigo) na mostra! um milagre, normalmente já acontece no primeiro dia. pena que foi na sessão errada. na mais errada possível.

download sendo realizado. sei que você odeia pirataria, cakoff, mas porra, faz as coisas direito ou você nos obriga a isso. nos próximos dias, conto a impressão final sobre essa loucura japonesa.

e daí, tudo só piorava. por que não cancelaram a sessão seguinte? por que? era simplesmente brilliantlove, uma das coisas mais medonhas que lembro de ter visto na minha vida cinematográfica.

é mais ou menos assim: um casal trepa o dia inteiro, e a noite também. sem problemas, pessoas trepam. dias inteiros e noites também. ele, um completo paspalhão incapaz de pronunciar duas palavras, tira fotos dela enquanto isso. pelada, gozando, gemendo, o que mais vocês puderem imaginar. um dia, ele esquece as fotos num boteco, que são encontradas por um empresário do ramo da pornografia. ele acha aquilo genial e publica.

a partir daí, as piores situações possíveis são desenvolvidas por dois personagens que são mais irritantes, burros, imaturos e mimados que aqueles que eu já tinha descrito anteriormente, de modra. os dois são completamente vazios, além disso. não são capazes de raciocinar, parecem duas marionetes do roteiro pra filmar cenas de softporn com uma ou outra imagens de pinto e boceta e simulação de porra voando pela cena. se fosse pra definir isso aqui, definiria como um sub-9 canções. aí é possível notar a gravidade do negócio.

eu ia me dirigindo para ver howl, sobre a criação e depois julgamento de um dos meus livros favoritos, o homônimo de allen ginsberg. porém, ele não chegou. no lugar, botaram quando partimos, filme alemão que vai tentar a indicação ao oscar de filme estrangeiro. decidi ver.

e porra, QUE ERRO, carlos massari, QUE ERRO.

se brilliantlove era um sub-9 canções, esse aqui é um sub-crash no limite. ok, exagero, mas ele usa dos mesmos clichês e situações limites horrorosas pra criar todo o seu dramalhão, claro, com raízes sociais. eu já cansei de dizer infinitas vezes o quanto odeio personagens que são marionetes da tragédia inevitável e que estão ali na tela só para sofrer, sofrer e sofrer o tempo inteiro. pois bem. posso parar por aqui.

feo aladag, que tal ver um pouco de marco bellochio antes de tentar fazer um melodrama de novo?

depois, o cinema romeno. aurora, do mesmo diretor do excelente a morte do sr. lazarescu, é praticamente uma ultra-execução do modelo que esse novo cinema romeno excepcional tem feito nos últimos anos. as cenas silenciosas, os personagens cheios de dores, os planos longos, as conversas. a obra tem 180 minutos, muitos deles desnecessários, mas acaba se fechando de forma bastante digna. a exemplo de polícia, adjetivo, temos uma cena final magnífica, apesar de as duas serem deveras parecidas. aqui, fico com uma impressão até um pouco irônica da coisa. cristi puiu tem muito talento e com certeza está na minha lista de cineastas dos quais os próximos filmes são imperdíveis.

do grego na floresta, tudo que possa ser dito será chover no molhado - é uma obra interessante por seu valor conceitual, com câmera na mão acompanhando os personagens praticamente em super close quase o tempo todo. é uma exaustão de orelhas, narizes e bocas na tela. praticamente não existe nenhum diálogo, e são esses três personagens que ficam numa floresta afastados da civilização e a relação entre eles, contada por toques de pele, sorrisos, olhares e fodas. se perde muitas vezes e me parece vazio e inconsequente, mas tem seu valor experimental.

foram horas de tensão tentando descobrir se a cópia de homens e deuses chegaria ou não. na última hora, ela chegou. comemoração, todos se abraçaram. opa, não. isso foi em cannes com tio boonmee.

esse homens e deuses, filme francês que levou o grande prêmio do júri em cannes, é um retrato quadradíssimo do sequestro e assassinato sofrido por monges católicos na argélia na década de 90. trata-se de uma obra completamente dentro dos padrões cinematográficos de narrativa, de câmera, do que quer que seja. não ousa inovar em momento nenhum, não pensa adiante em lugar nenhum.

praticamente caímos de novo no que eu disse sobre hugh hefner: a narrativa extremamente quadrada sobrevive e se levanta graças ao tema interessantíssimo.

não sei vocês, mas eu prefiro coelhinhas a monges.

(hugh hefner - 3/4, símbolo - ?/4, brilliantlove - 0/4, quando partimos - 1/4, aurora - 2.5/4, na floresta - 1.5/4, homens e deuses - 2.5/4)

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