sexta-feira, 30 de outubro de 2009
mostra - dia 8
quinta-feira, 29 de outubro de 2009
mostra - dia 7
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
mostra - dia 6
terça-feira, 27 de outubro de 2009
mostra - dia 5
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
mostra - dia 4
mostra - dia 3
domingo, 25 de outubro de 2009
mostra - dia 2
35 doses de rum, de claire dennis: um olhar sobre a separação entre pais e filhos vindo da diretora francesa claire dennis. no caso, é separação entre pai e filha. eles moram num pequeno apartamento no subúrbio parisiense, ele é operador de trens, ela é a melhor aluna da sala. o filme se desenvolve, mas é muito arrastado, demora muito pra chegar a algum ponto realmente interessante. a partir daí, tem algumas passagens magníficas, como toda a sequência entre a saída pro teatro que acaba num mini-baile num boteco. a resolução é a esperada, mas nada no filme salta muito aos olhos, em campo algum. vale por ser mais uma peça na interessante cinematografia da diretora. 2/4
ervas daninhas, de alain resnais: depois de fazer o excepcional "medos privados em lugares públicos", resnais apareceu na seleção oficial de cannes com esse aqui. a impressão clara é que o diretor, já com 87 anos e sem dúvida um dos maiores mestres de toda a história do cinema, autor de obras-primas como "noite e névoa" e "o ano passado em marienbad", hoje faz filmes se divertindo absurdamente, sem maiores preocupações. esse é todo o aspecto de ervas daninhas, comédia romântica com toda a habilidade estética de resnais, brincadeiras narrativas, bom humor destilado por todos os lados. é uma obra que nem parece de um senhor de 87 anos. mas é, e ele ainda tem toda essa competência pra, mais que se divertir, fazer o público todo feliz. 3/4
sussurros ao vento, de shahram alidi: antes de mais nada, fotografia lindíssima, um filme com cuidados especiais de câmera, de colocação, com muitos pontos de reflexão sobre a imagem - todo movimento tem sentido, é cuidadosamente planejado, um trabalho realmente sensacional. o filme é sobre um mensageiro que viaja pelo curdistão, eerr, entregando mensagens. "perdi meu filho na guerra", "por favor, peçam pro meu filho voltar", etc etc etc. basicamente, é um grito extremo de manifesto nacionalista do curdistão, com algumas cenas que GRITAM liberdade, como a transmissão por uma rádio proibida do choro de um recém-nascido após um massacre do exército iraquiano, como se quisesse dizer "os curdos vivem". me irrita um pouco fazer um filme com todos esses clichês sobre o sofrimento de um povo oprimido, mas colocando na balança, esse aqui é realmente foda. 3/4
mother, de bong joon-ho: aclamado mundialmente pelo terror esquisito o hospedeiro, lançado uns dois ou três anos atrás, o coreano bong joon-ho volta agora com um suspense esquisito, história sobre uma mãe de um filho retardado que tenta provar a inocência após seu filho ser acusado de assassinato. digo esquisito porque são infinitos elementos de comédia enfiados no meio de uma forma bem atípica, como já ocorria em o hospedeiro. o negócio aqui é que a construção do filme é sensacional, tanto no que diz respeito ao clássicoinvestigação do crime, principalmente nos personagens, todos com começo, meio e fim em suas trajetórias - impossível não pensar em moral ao escrever aqui, mas eu não gosto da palavra e talvez o filme também não goste. fato é que, se não é uma obra-prima, chega perto. 4/4
nota-se como fator interessante aí o fato que os dois melhores filmes até agora são asiáticos. vamos ver como esse painel se desenvolve durante a mostra.
mostra - dia 1
eu gostaria de poder chegar aqui no primeiro dia de uma mostra e dizer que não houve nenhum problema técnico. a desorganização é sempre assustadora, com algo acontecendo pra atrapalhar toda a programação de uma sala ou mais. hoje, felizmente, não foi nada referente a atrasos, e sim o sistema de legendas eletrônicas do espaço unibanco que não funcionou, pelo menos enquanto eu estava por lá. o primeiro filme, 'ramirez', era espanhol, e o segundo, 'aviões de papel', húngaro. pra nossa extrema sorte, este tinha embutidas legendas em inglês. seria melhor que não tivesse. pelo menos poderíamos nos divertir brincando de decifrar o que os personagens falavam pra fazer o tempo passar mais rápido.
'ramirez' e 'aviões de papel' nem merecem textos separados. são dois filmes que sofrem dos mesmos infinitos problemas. muitos desses problemas são coisas comuns dentro do cinema, desde sempre. personagens sem construção nenhuma, cujas ações são soltas, vão do nada ao lugar nenhum. no caso do filme espanhol, a situação é absolutamente inexplicável, visto que ele é todo centrado no personagem principal, ao contrário do húngaro que é uma junção de oito, nove ou vinte - não tive muita paciência pra me preocupar com isso - estórias diferentes, todas contadas com ceninhas rápidas de um ou dois minutos e pulando novamente pra seguinte. o genial aqui é a falta de necessidade de existência de algumas (95%, digamos) desses micro-estórias. uma delas, exemplificando, é sobre um escritor que não consegue escrever. passagem um: ele sentado à máquina. passagem dois: ele levanta e faz um lanche. passagem três: ele senta de novo, mas o telefone toca. e assim por diante. até o final. nada, absolutamente nada, acontece. eu entenderia até uma negação da narração tradicional, mas claramente não é a intenção do excelentíssimo sr. diretor.
'ramirez', sim, é uma obra que tem uma construção atípica de narrativa, uma vez que, no começo, as cenas aparentemente não tem maior ligação umas com as outras. vemos o personagem título traficando drogas, depois, saindo com uma mulher, depois, visitando a mãe, depois, tirando fotos. essa é a apresentação do personagem. não existe, porém, coerência psicológica. os atos não batem, não existe construção. e, depois, ainda a não-narrativa é abandonada. uma linha comum passa a ser seguida. não que isso o torne melhor ou pior.
tudo bem, seriam apenas dois filmes ruins se não houvesse o fator principal de irritação: a câmera. sabe-se lá porque, mas nos dois casos há uma incapacidade de mantê-la quieta. vamos descrever: câmera chega a uma imagem onde está o centro da ação. câmera para, ação decorre. de repente, DO NADA, sem mudança nenhuma do centro da ação, a câmera treme, se mexe, se movimenta, sem sentido nenhum. é simplesmente um tique dos diretores, dos operadores de câmera ou de alguém da equipe. mas em ambos os filmes, isso ocorre com frequência. além disso, 'ramirez' é consideravelmente mal-iluminado, mas depois de tanta coisa, isso já nem faz tanta diferença.
desci do espaço unibanco pro frei caneca com a esperança do dia ser salvo por still walking, o novo kore-eda, cineasta que eu tinha uma admiração relativa, principalmente por depois da vida e ninguém pode saber. ok, nem precisava ser um GRANDE filme, eu já estaria feliz em não ver uma câmera com epilepsia, o que seria pouquíssimo provável de se repetir pelo passado da obra do diretor. alívio extremo: 120 minutos com uns 118 de câmera estática. tudo devidamente compensado. meus olhos agradecem.
(e não me entendam errado, eu admiro - e muito - movimentos bem-feitos de câmera, isso é uma mera questão de opção dos autores e não tem nada a ver com a qualidade do filme, EXCETO quando se deu ecstasy pra câmera antes de iniciar as gravações).
tá, isso é o de menos no caso de 'still walking', apesar de ter a ver com a homenagem a yasujiru ozu, que está contida também - e sobretudo - no tema e seu desenvolvimento. temos aqui uma reunião de família, três gerações - avô e avó, dois filhos, cônjuges, três netos. preparativos pro almoço, chegada dos filhos, diálogos. personagens sendo construídos tijolo a tijolo. tensão surgindo do desenvolvimento deles. personalidades, olhares, diálogos. nenhum julgamento. todos são seres humanos absolutamente palpáveis, a senhora é a encarnação japonesa da minha avó, por exemplo. as discussões sobre trabalho, tradições, futebol, criação dos filhos e tudo o mais estão lá e vão levando aos temas centrais desta obra de kore-eda.
tempo, dor, perda, tradições. todos eles, com o desenvolvimento de 'still walking', surgem no primeiro plano. os personagens passam, essas quatro palavras continuam. o que nós vemos é a passagem e a continuação. 'still walking'. a vida continua. as tradições continuam. o tempo continua. e o diálogo final ainda, na minha sincera impressão, reflete o cinema japonês, de ozu pra kore-eda - sem comparações, por favor - nos personagens do filme.
ramirez, de albert arizza - 1/4
aviões de papel, de simon szabó - 0/4
seguindo em frente, de hirokazu kore-eda - 4/4