segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

blue valentine + true grit

blue valentine:

eu sempre lembro de quando escrevi sobre closer e disse que quem fez aquele filme obviamente nunca tinha estado num relacionamento com ninguém, uma vez que aqueles diálogos eram as coisas mais imbecis, acéfalas e irritantes possíveis no cinema. o gosto do pau dele era melhor que o do meu? sério mesmo, cara? que porra de diálogo é esse?

a exata sensação contrária eu tive vendo esse blue valentine, estréia de derek cianfrance em longas. o pensamento era puta que pariu, é exatamente assim que acontece! eu já tive esse diálogo com alguém! - e, bom, eu não preciso explicar qual das duas situações é a melhor.

blue valentine é quase que um filme-porrada, já que se vê a decomposição e a construção de um relacionamento ao mesmo tempo. eles estão se apaixonando e se distanciando, tudo é uma questão de qual o momento atual da narrativa, que se mescla muito bem. e com todo esse emaranhado de realidades e situações, de idas e vindas, de beijos e risadas e lágrimas e discussões, existe uma incrível sutileza, um olhar diferente de um filme que sabe que você vai se aproximar dos dois personagens - sem maniqueísmo, sem uma filhadaputagem à summer, é tudo natural e real.

michelle williams e ryan gosling estão os dois em atuações fantásticas, de incrível densidade e emoção. num mundo justo, ganhariam os dois oscars de atuação sem muita competição. e o filme segue seu rumo, acompanhando o fim e te lembrando que se trata de um relacionamento real, uma paixão entre duas pessoas de carne e osso e seu fim. e com um plano final maravilhoso, te dá a porrada final.

true grit:

há uns tempos atrás, quando eu comecei a escrever um noir, achei que a melhor coisa a se fazer seria usar todas as referências e situações conhecidas do gênero e fazer dessa construção quase uma homenagem. afinal, é um gênero em extinção há, digamos, cinquenta anos. é mais ou menos o que os irmãos coen fizeram aqui, com um western.

não se trata de uma obra-prima, de um no country for old men, mas é um filme que passa com uma velocidade incrível, extremamente divertido e repleto de violência e momentos engraçados e toques típicos dos coen dentro desse mundo tão definido e com suas paredes erguidas nos clichês e nas marcas do gênero. jeff bridges tomando o lugar de john wayne - apesar que um western, pra ter todas as marcas registadas de um western, precisa ter john wayne. e quando bridges estava prestes a aparecer pela primeira vez - e que puta atuação foda, diga-se - eu realmente quis ver o velho astro da versão original.

dito isso, é redundância continuar escrevendo que os coens fizeram outro grande filme. a impressão que fica é que eles tem acertado sempre, se divertido pra caralho, filmando exatamente o que querem filmar e ganhando mais e mais a admiração de todo mundo - do público médio à academia hollywoodiana. e eu já não fico mais tão longe de dizer que eles são os principais cineastas dos últimos 20 anos.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

the fighter + black swan

pequena retomada com filmes do oscar, vamos lá:

the fighter:

é um tanto quanto difícil fazer esses filmes com histórias reais esportivas que todo mundo sabe como vai acabar - o herói, os conflitos, as dificuldades, as lutas e a porra toda - e quanto o esporte central é boxe tudo fica ainda mais difícil pela overdose de exemplares existentes (porra, rola até uma confusão nos títulos - the wrestler, do aronofsky, sobre quem falaremos daqui a pouco, aliás, virou o lutador por aqui. e aí, pra não fazer outro o lutador no ano seguinte, esse aqui vira o vencedor. genial).

mas o que importa é que, apesar do clichezaço e do excesso de conflitos, david russell faz uma puta direção, aproximando a linguagem do filme do documental e das transmissões televisivas do boxe. o principal trunfo, porém, é o elenco sensacional, que apesar de ser encabeçado por um mark não mudo nunca nem mesmo o cabelo pra papel nenhum wahlberg, tem presenças fundamentais de amy adams, melissa leo e, sobretudo, um espetacular christian bale, se doando completamente pra um papel dificílimo e tendo uma atuação épica.

aliás, se eu fosse o mark wahlberg, ficaria com vergonha ao ver o filme e me comparar com o bale.

tem uma cena maravilhosa no meio do filme, com i started a joke, dos beegees (sim!), já desponta como candidata a cena do ano.

black swan:

o que eu curto pra caralho no aronofsky é ele é sempre audacioso, cheio de idéias e vai a fundo nelas. mesmo quando ele erra a mão completamente (fonte da vida manda lembranças), não dá pra dizer que ele não ousou e saiu dos clichês e padrões básicos de todas as áreas do cinema.

e o outro ponto fundamental é de maturidade - requiém para um sonho é um filme que eu realmente odeio com força por ser imaturo pra caralho, julgar e condenar seus personagens. em o lutador ele deixa isso pra trás, as coisas passam a ser naturais e o personagem aceito e respeitado pela direção, com aquele final sublime. aqui acho que rolou uma continuidade disso aí.

tenho alguns (ok, talvez muitos) problemas com a câmera do aronofsky, ela é sempre um pouco inquieta demais pra mim. o começo do filme não me convence muito, mas conforme vai rolando a transição, o filme cresce pra caralho. os quinze minutos finais são espetaculares, angustiantes, muito fortes e bem realizados.

mas é bom demais ver toda a ousadia e perfeccionismo estético, com todos os rolês da fotografia, das luzes e tudo o mais, encontrando a maturidade do aronofsky. ele virou um cineasta gente grande de verdade, e agora isso tende a ser cada vez melhor.