sexta-feira, 3 de junho de 2011

mais sobre blue valentine, hangover II

fazem quatro meses que eu escrevi esse texto sobre blue valentine, de derek cianfrance, visto então com a ajuda da boa e velha pirataria. fazendo um resumo, é um filme denso e pesado sobre a deterioração de um relacionamento, muito mais um dedo na ferida de qualquer espectador que já passou pela situação do que um filme bonitinho ou otimista.

nada mais inacreditável que ele tenha no brasil recebido o título namorados para sempre, o slogan quando o amor acabou a paixão voltou para reacendê-los, ou alguma outra babaquice parecida, e sua data de lançamento marcada para o dia dos namorados. não é simplesmente uma coincidência, é um gigantesco golpe de marketing. vão vender o filme como uma comédia romântica típica da data para adolescentes que vestem cor-de-rosa e esperam o príncipe encantado. obviamente, não vai dar certo.

eu não sei se a intenção é a) traumatizar uma geração b) rir da cara das garotinhas citadas acima ou c) gerar um grande fracasso, mas é o tipo de estratégia que não me parece fazer nenhum sentido. quer dizer, as alternativas "a" e "b" seriam engraçadas, mas com certeza só uma mente doentia como a minha pensaria nelas.

aliás, simplesmente vejam esse trailer e me digam toda a diferença que os títulos blue valentine enamorados para sempre no final fazem.

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raciocinando mais sobre o filme depois de ver o trailer no cinema passando antes de the hangover II, eu acabei me tocando que provavelmente gosto tanto dele pelo fato do personagem do ryan gosling ser mais um desses que aparecem na tela de vez em quando que são extremamente parecidos comigo. alguns diálogos sensacionais como o que começa com ela perguntando por que você precisa começar a beber todos os dias às oito da manhã? e termina com um eu não queria nada disso. ser marido, pai, ter um emprego, dinheiro, uma casa. eu faço isso porque eu te amo. enfim, isso não é história pra esse blog, mas vale o registro.

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não existe muito o que ser dito sobre hangover II, o filme em si é insignificante. uma cópia exata do primeiro em estrutura, piadas e tentativas de humor, mas sem a mesma graça e sem o prazer da descoberta. mas eu preciso falar que fico feliz pra caralho e com esperança no mundo quando uma comédia tão politicamente incorreta e preconceituosa ainda faz um sucesso tão estrondoso. a chatice ainda não nos dominou por completo.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

blue valentine + true grit

blue valentine:

eu sempre lembro de quando escrevi sobre closer e disse que quem fez aquele filme obviamente nunca tinha estado num relacionamento com ninguém, uma vez que aqueles diálogos eram as coisas mais imbecis, acéfalas e irritantes possíveis no cinema. o gosto do pau dele era melhor que o do meu? sério mesmo, cara? que porra de diálogo é esse?

a exata sensação contrária eu tive vendo esse blue valentine, estréia de derek cianfrance em longas. o pensamento era puta que pariu, é exatamente assim que acontece! eu já tive esse diálogo com alguém! - e, bom, eu não preciso explicar qual das duas situações é a melhor.

blue valentine é quase que um filme-porrada, já que se vê a decomposição e a construção de um relacionamento ao mesmo tempo. eles estão se apaixonando e se distanciando, tudo é uma questão de qual o momento atual da narrativa, que se mescla muito bem. e com todo esse emaranhado de realidades e situações, de idas e vindas, de beijos e risadas e lágrimas e discussões, existe uma incrível sutileza, um olhar diferente de um filme que sabe que você vai se aproximar dos dois personagens - sem maniqueísmo, sem uma filhadaputagem à summer, é tudo natural e real.

michelle williams e ryan gosling estão os dois em atuações fantásticas, de incrível densidade e emoção. num mundo justo, ganhariam os dois oscars de atuação sem muita competição. e o filme segue seu rumo, acompanhando o fim e te lembrando que se trata de um relacionamento real, uma paixão entre duas pessoas de carne e osso e seu fim. e com um plano final maravilhoso, te dá a porrada final.

true grit:

há uns tempos atrás, quando eu comecei a escrever um noir, achei que a melhor coisa a se fazer seria usar todas as referências e situações conhecidas do gênero e fazer dessa construção quase uma homenagem. afinal, é um gênero em extinção há, digamos, cinquenta anos. é mais ou menos o que os irmãos coen fizeram aqui, com um western.

não se trata de uma obra-prima, de um no country for old men, mas é um filme que passa com uma velocidade incrível, extremamente divertido e repleto de violência e momentos engraçados e toques típicos dos coen dentro desse mundo tão definido e com suas paredes erguidas nos clichês e nas marcas do gênero. jeff bridges tomando o lugar de john wayne - apesar que um western, pra ter todas as marcas registadas de um western, precisa ter john wayne. e quando bridges estava prestes a aparecer pela primeira vez - e que puta atuação foda, diga-se - eu realmente quis ver o velho astro da versão original.

dito isso, é redundância continuar escrevendo que os coens fizeram outro grande filme. a impressão que fica é que eles tem acertado sempre, se divertido pra caralho, filmando exatamente o que querem filmar e ganhando mais e mais a admiração de todo mundo - do público médio à academia hollywoodiana. e eu já não fico mais tão longe de dizer que eles são os principais cineastas dos últimos 20 anos.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

the fighter + black swan

pequena retomada com filmes do oscar, vamos lá:

the fighter:

é um tanto quanto difícil fazer esses filmes com histórias reais esportivas que todo mundo sabe como vai acabar - o herói, os conflitos, as dificuldades, as lutas e a porra toda - e quanto o esporte central é boxe tudo fica ainda mais difícil pela overdose de exemplares existentes (porra, rola até uma confusão nos títulos - the wrestler, do aronofsky, sobre quem falaremos daqui a pouco, aliás, virou o lutador por aqui. e aí, pra não fazer outro o lutador no ano seguinte, esse aqui vira o vencedor. genial).

mas o que importa é que, apesar do clichezaço e do excesso de conflitos, david russell faz uma puta direção, aproximando a linguagem do filme do documental e das transmissões televisivas do boxe. o principal trunfo, porém, é o elenco sensacional, que apesar de ser encabeçado por um mark não mudo nunca nem mesmo o cabelo pra papel nenhum wahlberg, tem presenças fundamentais de amy adams, melissa leo e, sobretudo, um espetacular christian bale, se doando completamente pra um papel dificílimo e tendo uma atuação épica.

aliás, se eu fosse o mark wahlberg, ficaria com vergonha ao ver o filme e me comparar com o bale.

tem uma cena maravilhosa no meio do filme, com i started a joke, dos beegees (sim!), já desponta como candidata a cena do ano.

black swan:

o que eu curto pra caralho no aronofsky é ele é sempre audacioso, cheio de idéias e vai a fundo nelas. mesmo quando ele erra a mão completamente (fonte da vida manda lembranças), não dá pra dizer que ele não ousou e saiu dos clichês e padrões básicos de todas as áreas do cinema.

e o outro ponto fundamental é de maturidade - requiém para um sonho é um filme que eu realmente odeio com força por ser imaturo pra caralho, julgar e condenar seus personagens. em o lutador ele deixa isso pra trás, as coisas passam a ser naturais e o personagem aceito e respeitado pela direção, com aquele final sublime. aqui acho que rolou uma continuidade disso aí.

tenho alguns (ok, talvez muitos) problemas com a câmera do aronofsky, ela é sempre um pouco inquieta demais pra mim. o começo do filme não me convence muito, mas conforme vai rolando a transição, o filme cresce pra caralho. os quinze minutos finais são espetaculares, angustiantes, muito fortes e bem realizados.

mas é bom demais ver toda a ousadia e perfeccionismo estético, com todos os rolês da fotografia, das luzes e tudo o mais, encontrando a maturidade do aronofsky. ele virou um cineasta gente grande de verdade, e agora isso tende a ser cada vez melhor.