terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

the hurt locker














filmes de guerra tem algumas vertentes para seguir. alguns exploram o lado psicológico dos combatentes e a completa degradação mental durante o período de conflito (full metal jacket, kubrick), alguns focalizam quase o tempo todo na ferocidade da batalha, com a intensidade e a ação sendo predominantes (resgate do soldado ryan, spielberg), alguns se contentam em fazer retratos e trazerem mensagens pessimistas e pacifistas sobre tudo aquilo (gloria feita de sangue, kubrick again) e alguns simplesmente mostram cruamente o quanto a guerra é uma completa idiotice desumana (vá e veja, klimov), apesar de quase todos se encaixarem nessa última categoria, mas sem a mesma ênfase. a não ser, claro, que estejamos falando dos filmes do ridley scott.

the hurt locker é tudo isso.

primeiro, é um filme de constante tensão, com três ou quatro cenas memoráveis nesse aspecto, com um destaque especial pra uma certa mosca. o perigo e a eminência da morte são duas características tão óbvias que o público é levado a prender a respiração e se envolver em cada segundo da ação.

segundo, é um filme de construção e destruição psicológica ímpares. os personagens estão em constante mudança, totalmente influenciados pelo meio no qual se encontram - a guerra, a morte. alguns se tornam mais estúpidos e descerebrados com isso. outros, depressivos. sair de lá é uma necessidade. voltar, talvez também seja.

terceiro, é um filme com ritmo, com direção acuradíssima, com atuações sensacionais, sobretudo de jeremy renner, o desarmador de bombas. bigelow, diretora que eu tinha visto um filme até então, o medíocre k-19, surpreende bizarramente com talento e pleno controle de sua obra. tudo está absolutamente no lugar.

são cinco ou seis cenas completamente memoráveis. destaco especificamente a mais sutil delas, uma envolvendo um supermercado, que dá um incrível nó na garganta.

temos aqui uma jóia tanto em visual como em conteúdo. james cameron podia ter se divorciado alguns anos depois e aprendido que cinema precisa dos dois lados.