quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

avatar











engraçado como pra se "revolucionar" esteticamente o cinema é necessário roteiros ruins e um grande vazio. não quero nem sequer discutir toda a parte visual desse novo filme de james cameron, é uma coisa que está propagada por todos os lados como "impressionante", "surpreendente", "épico" e qualquer outro adjetivo do tipo. pode ser uma revolução. pode não ser. você escolhe o que pensa sobre isso e o tempo dirá quem está certo. o problema é outro. o problema é que cinema é um conjunto de infinitas coisas, imagem e som duas das principais, mas que não se sustentam sozinhas. se não, ninguém se preocuparia em contar estórias, em revolucionar a narrativa, em sempre trazer a consistência pras palavras.

e nesse outro sentido, o palpável, o de fora do intenso mundo da imaginação, avatar é inacreditavelmente ruim. é quase fato que é um filme que, sem todo o extenso aparato visual, estaria concorrendo nos framboesas de ouro da vida. o velho conto da pocahontas, só que em outro planeta. lotado de clichês e de situações constrangedoras. com superação metida ali no meio. com uma previsibilidade vergonhosa - por favor, ninguém me diga que, no momento que o dragão vermelho indomável apareceu, não sabia que ele seria domado pelo protagonista. isso nem sequer é spoiler, tamanha a obviedade da constatação.

e assim nós continuamos, separando o cinema em blocos. existe o entretenimento e existe a arte. não sei se é impossível que eles se cruzem, mas a cada novo "avatar", eu duvido mais.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

10 filmes para um ano, versão 2009

e vamos a mais um aguardado (not) top 10: filmes lançados no brasil em 2009, por carlos massari:

10. A Troca, de Clint Eastwood














O ícone dos filmes de macho que cada vez mais se torna um camaleão do cinema com a idade é o responsável por esse melodrama de sobriedade rara. Com domínio do gênero, faz um filme que consegue ser muito emocional sem se tornar irritante. Coisa rara.

9. Arrasta-me para o Inferno, de Sam Raimi














Do trash para os grandes sucessos de Hollywood e, então, de volta ao trash. Sam Raimi mostra que os Homem-Aranhas da vida não corroeram sua capacidade de dar vida ao seu gênero preferido. Drag me to Hell assusta quando quer e faz rir quando quer. É cinema eficiente e divertido e, sobretudo, realizado por quem sabe o que está fazendo.


8. Bastardos Inglórios, de Quentin Tarantino:




















Cinema é a exploração dos limites da imagem e do som. Essa, melhor dizendo, é a arte cinematográfica. E por isso Quentin Tarantino é um dos grandes nela. Temos aqui mais um exemplar puro de cinema, de planos lindamente construídos, quadros, ângulos, movimentos. Imagem e som, simples assim. Tudo com a já registrada embalagem pop do cineasta, com os diálogos e as artimanhas muito bem conhecidas. Ficam os destaques pra toda a sequência de abertura e pra toda a sequência do cinema. Só não é uma completa obra-prima por diversas inconsistências, sobretudo com os personagens.

7. Polícia, Adjetivo, de Corneliu Porumboiu
















A palavra e a moral. A discussão. Personagens que tentam encontrar suas verdades para confrontá-las com as verdades dos outros. Os planos longos e trabalhados de Porumboiu retratando a reconstrução de uma sociedade após o fim do regime ditatorial. Toda a cena com o dicionário é memorável.

6. O Lutador, de Darren Aronofsky














O antes imaturo Aronofsky, que fazia mil cortes por segundo e filmes de moralismo ímpar com amplo julgamento de personagens, parece estar morto. O Lutador, com atuação épica de Mickey Rourke, é um filme feito com o coração. Seus personagens são figuras errantes e perdidas, mas nenhuma delas é julgada. A câmera não interfere, só acompanha. E o resultado é uma obra poderosa, um verdadeiro requiém.


5. Aquele Querido Mês de Agosto, de Miguel Gomes














"Explorar fronteiras entre documentário e ficção" é o grande clichê do cinema contemporâneo. É um dos méritos dessa jóia portuguesa, sem dúvida, mas o ponto principal é a beleza das cenas, das figuras retratadas, a paixão do cineasta por tudo o que é filmado e o cuidado nesse retrato das férias de verão na terra de Cabral. A música, as personagens fascinantes e o humor também são peças fundamentais.


4. Três Macacos, de Nuri Bilge Ceylan:












Um filme sobre moral, sobre aparências, sobre famílias e vidas sem sentido de existência. Um filme com fotografia, enquadramentos e, sobretudo, ritmo impressionantes. Cada diálogo é encoberto pelo peso dos silêncios. A vida é encoberta pelo peso do silêncio.

3. Gran Torino, de Clint Eastwood:














Clint Eastwood aqui é o Clint Eastwood que nos acostumamos a ver por décadas. Veterano de guerra, patriota, assiste beisebol enquanto bebe cerveja. Vive solitário. Seu maior bem é um carro antigo. Duro, ranzinza, ele aos poucos se liberta. O cineasta disse que este filme era a morte da figura principal que havia construído com os anos. De fato, é. Mas este é um belíssimo ponto final.

2. Amantes, de James Gray:













A definição de cinema feita no Bastardos Inglórios também se aplica aqui: Por trás dos personagens tristes, perdidos na cinzenta Nova York, está um cuidado ímpar com a imagem, com os reflexos, com as janelas, com os olhares. Uma estória linda com personagens fantásticos contada por uma das câmeras mais conscientes dos últimos anos. Uma obra-prima.

1. Deixa Ela Entrar, de Tomas Alfredsson:














Este é um romance entre um humano e uma vampira. Eles são adolescentes. Mas aqui, a intenção é fazer arte. Aqui, o público não são pré-adolescentes toscas, mas adultos que batem a cara contra o muro diariamente. Sangue, sexo, dor, sofrimento, tensão. Tudo aqui é real. Tudo tem seu papel dentro do filme, filme conduzido lindamente por Alfredsson em ritmo e em consistência. É da proximidade desse romance improvável que surge o grande filme do ano.



Em breve, dez filmes para uma década. Fiquem atentos.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

atividade paranormal

oren peli, 07, 1.5/4

eu fico relativamente assustado com o fascínio que esses filmes alguém viu uma assombração, gravou e agora tá aqui, passando no cinema! exercem na população. se eu me gravasse escovando os dentes por três horas e, no final, fizesse de conta que tinha uma sombra passando atrás de mim, já seria suficiente pra arrecadar uns 100 milhões de dólares. pessoas gostam de sentir medo, e o rótulo fake do "é tudo verdade" causa mais medo ainda, mesmo com todo mundo sabendo que é só um rótulo.

ano passado tivemos um exemplo sensacional, o espanhol [rec], de filmaço utilizando-se dessa premissa. assustador do começo ao fim, lindamente dirigido, fez até eu, um ateu convicto, dormir algumas noites de luz acesa (ok, not, mas entendam a hipérbole). atividade paranormal busca seguir o mesmo caminho, mas falha redondamente. apesar de, por algum tempo, ser todo ajeitado, investindo na construção do medo, nas batidas que acontecem de vez em quando, na convivência com o sobrenatural. existem, porém, dois problemas muito sérios:

a) os personagens são muito, mas MUITO idiotas, quase tanto quanto os clássicos adolescentes retalhados de sexta-feira 13 e afins. o namorado fica totalmente obcecado para estudar e provocar, hum, um demônio que persegue sua namorada e já matou alguém antes e claramente tem algo contra ele. sensacional. pior que isso, só o médium, dr. alguma coisa, que se fosse eu no lugar do casal protagonista, certamente teria levado uma surra.

b) o final quebra completamente toda uma estrutura que havia sido construída, aquela estrutura citada ali em cima do ritmo, dos barulhos formando o medo, da leveza dos sustos que não precisam apelar pro som alto e pras imagens teoricamente chocantes. não vou exatamente citar o porque disso, mas não é difícil de compreender. é como a negação de um trabalho feito até então minuciosamente - e que renderia um filme bem mais interessante se mantido por mais tempo, em uma obra maior, mais concisa - para se submeter a um gancho de continuação e a um susto mais conhecido do grande público. coisa triste.

eu admiro muitas coisas aqui, mas o resultado final é trágico.