quinta-feira, 28 de outubro de 2010

mostra - dia 7


Ex Isto, de Cao Guimarães

novamente, acabei perdendo um dia de mostra por motivos pessoais que nem sequer merecem ser relatados aqui - acreditem, se eu começasse a dizer, acabaria virando um livro, e um livro extremamente amargurado, revoltado e capaz de esculhambar um sem número de pessoas com palvrões, xingamentos e até mesmo socos de boxeadores pulando para fora da tela do computador. algum dia, talvez, eu coloque tudo isso no papel e publique, mas não será por meio deste blog.

dito isso, a boa notícia: esse provavelmente foi o último dia perdido de mostra. temos sete ininterruptos pela frente pra destruir o que sobra das capacidades soníferas e alimentícias deste corpo.

o sétimo dia oficial no calendário da mostra - quinto, portanto, com a minha presença - começou com ex isto, de cao guimarães, uma encenação absolutamente experimental sobre como teria sido uma visita de rené descartes ao brasil. é uma obra bastante conflitante em alguns aspectos e que acaba sendo sua principal inimiga, usando aqui este clichê dos esportes. impressionante esteticamente - um filme com longos planos do ator joão miguel, interpretando decartes, em diversas situações nos trópicos e da natureza e outros, sempre com narrações filosóficas ao fundo.

algumas imagens realmente são incrivelmente boas, ficando aqui o destaque pra um super close de uma aranha construindo uma teia. infelizmente, esse combo perfeição técnica de planos longos de praticamente nada (pelo menos por meia hora não existe outro ator em cena) + voz over com constatações filosóficas caminha de forma inevitável pra um sonífero infalível. quando o filme começa a surtar e inserir imagens e situações deslocadas dessa realidade toda, criando uma nova perspectiva e deixando de lado um suposto pedantismo, já é tarde demais. de qualquer forma, ex isto é, no mínimo, passível de interesse.

no mínimo passível de interesse também pode ser considerado o caso das divisões morituri, de fj ossang, o alvo da retrospectiva da mostra nesse ano. eu tenho uma pequena tendência a gostar de filmes malucos e pouco ortodoxos, e esse é completamente um deles. ossang, que desejou boa sorte à platéia antes do início da projeção, cria um universo à parte no qual gladiadores se matam em arenas e a polícia tenta impedir as apostas nesse jogo, indo atrás tanto dos lutadores como dos apostadores. a partir daí, se desenvolve uma ficção que foge de clichês e lugares comuns e se comporta de maneira absolutamente anômala, explorando várias das possibilidades imagéticas que o cinema oferece - desde variações nos tons de cor, enquadramentos e transições até as formas mais simples, como subtítulos que não deixam de piscar e se repetir na tela.

difícil partir de um filme como esse para algo tão quadrado e repetitivo como i wish i knew, de jia zhang-ke. eu provavelmente estarei dizendo algo que já disse antes, mas essa é uma frase metalinguistica: se algum dia eu encontrar zhang-ke na rua, vou pedir por favor, tenha caridade conosco e pare de SEMPRE FAZER A PORRA DO MESMO FILME. se você já viu qualquer um dos documentários desse cineasta sobre a china moderna, já viu este também. as pessoas vão rememorar suas infâncias e adolescências e as estórias de suas famílias na época da revolução sendo gravadas em lugares ermos, com cores frias e sem nenhuma interação com o público, a equipe ou qualquer outra coisa. uma vez, passa. mas é o trigésimo quinto filme igual de zhang-ke.

(aliás, observação pertinente feita hoje na fila enquanto aguardávamos pelo coutinho - zhang-ke tomou o lugar do amos gitai como cineasta mais repetitivo da atualidade. podíamos fazer um bolão sobre daqui a quantos filmes ele vai sair do rolê documentários sobre a china moderna, que tal?)

então, o misterioso e desconhecido um dia na vida, de eduardo coutinho. o filme sobre o qual ninguém sabia nada. o filme que, antes de ser iniciado, gerou devolução do ingresso pra todo mundo na fila - e porra, valeu mostra, mas vocês me deram dois ingressos de graça em vez de um - amamos quando esses erros acontecem! resumindo:

coutinho gravou 24 horas de todas as emissoras de televisão aberta brasileiras e fez uma colagem de uma hora e meia com tudo que existe de pior nelas. márcia, datena, casos de família, etc etc etc. é isso. começa com teleaulas de inglês, termina com venda de jóias na madrugada. obviamente, sem esquecer dos programas religiosos.

eu não quero entrar na discussão se isso é um filme ou não. não sei. não gosto de conceitos fechados e corretos, são coisas que pra mim não existem. se, com uma arma na minha cabeça, tivesse que escolher, eu diria que não - e é por isso que me abstenho de dar nota, apesar de ter achado uma experiência deveras interessante e ter gargalhado bastante com todas as bizarrices exibidas.

vale lembrar que provavelmente esse filme nunca mais será exibido, em lugar nenhum. questão de direitos autorais, vocês devem saber. por isso também foi mantido em segredo até o início da projeção.

(ex isto - 2.5/4, o caso das divisões morituri - 2.5/4, i wish i knew - 2/4, um dia na vida - s/n)

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