quarta-feira, 28 de outubro de 2009

mostra - dia 6














Corações em Conflito, de Lukas Moodysson: Uma grande fonte de bombas para o cinema nos últimos anos tem sido os filmes com histórias múltiplas se desenrolando, levando a uma tragédia inevitável e discutindo temas "importantíssimos" para a humanidade. Os dois maiores e mais fétidos exemplos são "Crash" e "Babel". Nessas obras, os cineastas manipulam os pobres personagens, que aliás, não são personagens, são meras marionetes do sofrimento e da catástrofe. A irritação é da anti-naturalidade das situações, de como tudo soa completamente forçado só para que as tragédias cheguem, abrindo um sorriso no rosto sádico dos diretores por terem destruído suas marionetes.

É aí que entra o cineasta de talento. Moodysson, conhecido por ser extremamente sutil e piedoso com seus personagens, após ter começado a carreira com "Amigas de Colégio" e "Bem-Vindos", duas obras bastante otimistas e leves ao tratar de temas complicados, migrou para um estilo mais sombrio que descambou no péssimo "Um Vazio em Meu Coração". Porém, ele se recupera aqui nesse "Corações em Conflito": Tem todo o cuidado que a obra pede, e por mais que a tragédia seja inevitável no final, ele cuida de seus personagens, que são absolutamente palpáveis, não julga ninguém, dá o direito à redenção. Não existem marionetes, são pessoas na tela. E Moodysson sabe conduzir suas histórias e levá-las a um final que não é feliz para muitos, mas um gosto amargo não precisa necessariamente ser deixado por sadismo contra as criações. Eu não gosto do estilo de câmera que é empregado aqui, mas é o de menos perto do grande anti-Babel que é esse Mammoth. 3/4

A 40ª Porta, de Elchin Musaoglu: Simplesmente tosco esse aqui. Do visual ao tema, tudo parece uma telenovela de emissora pobre dos anos 70. Personagens mal construídos, trama fraca, fotografia péssima. Me induzi ao sono após a primeira meia-hora. 0/4

O Que Resta do Tempo, de Elia Suleiman: Considerado por muitos como o filme que merecia a Palma de Ouro no último festival de Cannes, o novo filme de Suleiman é uma comédia dramática que visa sempre a repetição de gestos, a nulidade, a quebra do esperado e da temporalidade. Fazendo uma sátira política à guerra Israel-Palestina, são episódios da vida do diretor e de sua família contadas com muito bom humor através do estilo já conhecido do autor. Essa leveza nos atos, gestos e diálogos e na coordenação de cena levam a um resultado que beira o genial. Suleiman, como Buster Keaton, Charlie Chaplin, Woody Allen, Nanni Moretti, entre outros grandes comediantes do cinema, se coloca em cena e representa aqui a si mesmo, em algumas sequências antológicas. Com câmera estática o tempo todo, mas planos curtos, tem ainda uma excepcional mise-èn-scène. Uma jóia. 3.5/4

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