quinta-feira, 5 de novembro de 2009

mostra - dias 12, 13 e 14















O Amor Segundo B. Schianberg, de Beto Brant: Pra começar, a idéia de se fazer o filme com câmeras de vigilância, independente do propósito que teve, foi horrível - a qualidade da imagem e do som são simplesmente péssimos. dito isso, tambem nao se pode ignorar que a estrutura de diálogos entre um casal, sem uma trama previamente estabelecida, é de leve interessante, mas aqui simplesmente nao causa nenhuma reaçao no publico, seja pela inexpressividade dos atores, seja pela falta de uma linha nesse diálogo - que tem algumas passagens sensacionais. seria uma ótima série de tv, mas é um filme apenas fraco. 1.5/4

Soul Kitchen, de Fatih Akin: primeira incursão do sempre engajado politicamente fatih akin na comédia, deixando de lado todas as questões 'importantissimas' que sempre trata, sobretudo a imigração de turcos pra alemanha. o que se vê facilmente é que akin é um cineasta de muito talento, muito controle de cena, e quando se mantem longe de assuntos chatos, faz belos filmes. essa aqui é uma comédia com personagens fortes, boas atuações e toda a excepcional direção do turco-alemão. sem duvida, vale a pena. 3/4

Cabeça a Prêmio, de Marco Ricca: taí um filme-nada. incapaz de gerar qualquer irritação ou qualquer animação com ele, é correto o tempo todo, tem bons atores espalhados pelo elenco, mas simplesmente não decola. é uma burocracia tremenda, amarrando o roteiro, criando conflitos, sub-tramas, o que for, todos pedindo por alguém que pudesse destrinchar tudo e fazer um filme melhor. não tinha. apesar de ser correto, não dá pra chamar de nome nenhum. só de filme-nada. 1.5/4

Sede de Sangue, de Chan-wook Park: cada vez mais próximo de um cinema sem limites, um mundo próprio de fantasia, com narrativas diferenciadas e concepções próprias, o coreano chan-wook park traz aqui esse conto sobre um padre que vira vampiro e passa a lutar contra sua condição e, em seguida, perder sua fé e entrar num novo estágio de humanidade. visualmente arrebatador, com todo o cuidado que já conhecemos do autor - e park é provavelmente um dos seres que mais podemos chamar de autor no cinema atual - diálogos muito bons, a estrutura livre e anárquica do cada vez mais fora de padrões cineastas, esse é um exemplo de grande cinema, de filme que tem vida própria e deve marcar época. meu único problema é com o final "poético", mas isso se deve sobretudo ao meu ódio de personagens idiotas. 4/4

Enfermaria Número 6, de Karen Shaknzaranov: tem centenas de filmes por aí que buscam o limite entre documentário-ficção propositadamente e a exploram de forma brilhante (ou não...). esse russo dá a clara impressão de não saber se quer se assumir como ficção ou ser um mockumentary. as entrevistas com os internos logo dão lugar a tramas claramente ficcionais filmadas dentro do hospício, e apesar de algumas figuras bem interessantes ali dentro, nunca conseguimos nos envolver com a completa má-resolução estilística da sra. diretora. uma pena, sem duvidas. 2/4

Maradona, de Emir Kusturica: Se Tyson é um documentário sem diretor (nas palavras de um amigo, 'o diretor ligou a camera, deixou tyson falando e foi no mercado'), Maradona é um filme com um diretor que quer aparecer demais e passa dos limites da auto-indulgencia. Ele está ali, na frente da camera o tempo todo, comparando gols do jogador de futebol com seus filmes, comparando fases da vida do astro com seus filmes, comparando a cor da roupa de maradona com seus filmes. porém, é uma obra muito vibrante, que tem o tempo todo a cara de kusturica, um cineasta que sempre buscou esse exagero na sua carreira. a vibração toda é a cara de um autor com estilo muito claro. e eu prefiro esse aqui a tyson, antes um filme com um diretor que quer aparecer demais que um sem diretor. 2.5/4

Todos os Outros, de Maren Ade: Casal numa viagem de férias tem problemas em sua relação. Eu tinha esse roteiro. Fiquei puto com essa sinopse. Mas, felizmente, todos os outros tem pouco a ver com o meu roteiro. É um filme mais centrado em pequenos detalhes, e o relacionamento não se deteriora de uma forma tão clara, radical, como aconteceria no meu projeto. É, sem dúvida, um estudo minucioso de personagens, de personalidades, de controle de situações. Fica com uma sensação de faltar mais ambição, mas funciona bem dentro do seu estilo naturalista. 2.5/4

Selvagens, de Lawrence Gough: Terror britânico absolutamente sem razão de existir, onde tudo consegue ser errado e mal-feito. O monstro quase não aparece, os personagens não tem desenvolvimento nenhum, a figura da polícia-assassina é um enfeite colocado só pro roteiro ter onde chegar. Um ou outro susto garantido pelo velho truque do som alto e ponto final. 0.5/4

Você não Vai Sentir Minha Falta, de Ry-Russo Young: Este aqui sim é um filme absolutamente naturalista, no qual a câmera praticamente segue sua personagem principal sem que haja uma estória sendo contada sobre ela ou nada do tipo - não há conflito, não há relação, não há trama - simplesmente uma garota com alma extremamente livre, recém-saída de uma clínica psiquiátrica, anda pela cidade, conversa com pessoas, trepa, usa drogas, fuma em lugares proibidos, briga, entre infinitas outras coisas. tem algumas cenas sensacionais, mas acaba cansando pela inexistencia de um motor pro filme ali pelos 50 minutos, e daí em diante fica completamente arrastado. vale reclamar da projeçao horrivel retalhando o filme no reserva cultural. 2.5/4

Pequenos Crimes, de Christos Georgiu. Em uma mostra na qual vimos filmes do Sri Lanka, Filipinas, Azerbaijão, Palestina, entre outros, nada como terminar com um do Chipre. Infelizmente, é mais um exemplo de filme-nada, comédia boba passada em uma pequena ilha com alguns personagens simpáticos e só. Sem motivos para ser visto. 1.5/4

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

mostra - dia 11











Os Famosos e os Duendes da Morte, de Esmir Filho: absolutamente nada explica a badalação a esse filme, vencedor do festival do Rio e tudo o mais, a não ser um culto desnecessário ao jovem diretor que ficou famoso na internet com o vídeo "tapa na pantera". é o tempo todo um exercício de pseudo-lirismo, que irrita na câmera estranha, no uso exaustivo de demonstrações virtuais (posts em blogspot, msn, flickr, o que diabos você imaginar), como se fosse necessário tudo isso pra caracterizar o personagem como um poeta, artista, ser cult ou sabe-se lá o que. a conjunção dessa busca por uma diferenciação, do protagonista que supostamente é deslocado da sociedade, feita com câmera + diálogos, cai numa repetição que é um buraco negro de onde o filme absolutamente não se levanta mais. e fica a expressão clara de decepção. 1.5/4

Viajo Porque Preciso, Volto Porque te Amo, de Karim Ainouz e Marcelo Galvão: Filme que já traz algo incomum na linguagem, ao deixar o protagonista apenas com a voz off e fazer todos os 80 minutos em câmera subjetiva, sem que ele apareça em momento nenhum, apenas narre e uma ou outra vez converse, esta nova incursão de dois velhos conhecidos do cinema no sertão é uma poesia do início ao fim, um requiém para um amor, trazendo sentimentos e pensamentos que certamente já passaram pela cabeça de todos nós. a saudade, a desilusão, a necessidade de ter outros corpos, a lenta superação de tudo - estágios amplamente representados de forma lírica pelos diretores aqui. e a trilha sonora tem o clássico trash morango do nordeste! é uma obra-prima, e não se tem muito mais o que dizer. só vejam o filme. de preferência, com o coração apertado. 4/4

Papai foi Caçar Ptármiga, de Robert Morin: Outro filme levemente diferenciado na linguagem, já que se apresenta como um vídeo gravado por um pai para suas duas filhas, ele que está fugindo da polícia canadense e quer enviar o vídeo para as meninas entenderem a situação. É divertido, e explora muito bem essa originalidade e novidade no modo de contar a estória, apesar de ter algumas incoerências sérias (cenas de diversos angulos sendo que é um cidadão com uma câmera gravando o dia-a-dia dele, tipo, COMO ASSIM?). mas de um modo geral, vale bastante a vista, é engraçado quando precisa e assustador quando quer, bela surpresa. 2.5/4

domingo, 1 de novembro de 2009

mostra - dia 9













Traga-me Alecrim, de Josh e Benny Safdie: Taí um filme que parece não ter absolutamente nada de especial, mas se sustenta no carisma de seu protagonista e no bom desenvolvimento do roteiro. É a história de um pai que passa apenas duas semanas por ano com seus filhos, e durante esse período, apronta altas confusões com eles. Alma absoluta indie, com o personagem irresponsável que arruma viagens de última hora, dá remédios potentes pros filhos dormirem, enfim, faz tudo errado até não poder mais, mas sem dúvida é uma boa pessoa e faz o público ficar a seu lado. Dá pra ver uma pontinha - só uma pontinha, muito pequena - de cassavetes aqui, até mesmo esteticamente. 2.5/4

Dente Canino, de Giorgos Lanthimos: Esquisito, bizarro, sem noção. Qualquer palavra dessa classe define perfeitamente esse filme grego premiado na Un Certain Regard. O mundo paralelo de uma família isolada do mundo, com regras e definições próprias, salta aos olhos: sexo oral como moeda, gato um animal mortal, zumbis pequenas flores do jardim, competições pelos prêmios estranhos da família. Nós achamos tudo isso estranho porque nossas regras de convivência são definidas previamente, muito tempo atrás. Não se pode dizer, porém, que as nossas são certas e as deles são erradas. Moral é relativa, ponto. Só não sei se a intenção do diretor Lanthimos era essa ou se era só chocar e fazer gracinha. Por isso, não sei também o que achei do filme. Na primeira situação, 3/4, na segunda, 0.5/4.

A Fita Branca, de Michael Haneke: Filme mais aguardado da mostra, Palma de Ouro em Cannes, sofre cronicamente de um problema sério: Falta de personalidade. Simplesmente não se enxerga Michael Haneke - diretor, lembremos, de Violência Gratuita e todo seu sadismo, de Caché e a navalhada do pescoço - por aqui. É sem dúvidas um filme de classe, enquadramentos perfeito, estetica firmemente constrúida sobre a linda fotografia em preto-e-branco, tudo absolutamente no lugar. A reflexão sobre o nascimento do fascismo é inteligente, também, e o todo do filme sem dúvida funciona muito bem. Só que porra, Haneke, você não é Bergman. O filme é todo por demais bergmaninano, por demais buscando a força das palavras, das situações como a sua força principal - as discussões médico/parteira GRITAM "cenas de um casamento!, cenas de um casamento!". e é essa falta de personalidade, falta de ser si mesmo de michael haneke, que evita que tenhamos uma real obra-prima aqui. 3/4.